terça-feira, 16 de outubro de 2012

O PAI: A sua importância e os seus deveres - Parte 4





Padre Emmanuel de Gibergues


É obra de força, requer firmeza.

Esta falta ainda mais do que a perspicácia.

Porque é mais difícil querer do que saber; e se os pais não querem saber, é porque o saber condená-los-ia a querer. Quem não tem querer, não sabe mandar nem proibir, nem, o que é capital, obrigar as crianças a quererem. Não só na infância, mas ainda mais tarde e sempre, lhes fazem física e moralmente, todas as suas vontades. Em toda extensão do termo, educam-nas mal, isto é, corrompem-nas.
Adulam o corpo e a alma, a carne e o espírito; alimentam as paixões; excitam-lhes a vaidade, o orgulho; honram-nas, adoram-nas.
Cedem-lhes tudo; habituam-nas a vencerem os outros, a dominarem, a fazerem a sua própria vontade. É o sistema de concessão levado até a mais deplorável fraqueza. Vêem-se moços que chegam a ser os verdadeiros donos da casa, a mandarem em tudo, e a aniquilarem os próprios pais que, para conservarem uma aparência de dignidade, dizem amém a tudo.
Mas a criança não quer obedecer, e não quererá, objetam! Então porque sois pais, meus 
senhores, senão para quererdes com sabedoria, e fazerdes querer com a vossa autoridade?

Mas ele tem quinze anos, já se não pode obrigar! O Evangelho resume a vida de Jesus Cristo em casa de seus pais, por uma só palavra: erat subditus illis 1. Obedeceu até aos trinta anos. É o exemplo que deveis apresentar a vossos filhos. Aos quinze, aos vinte anos, os vossos filhos devem obedecer-vos.

Mas a firmeza não é o arrebatamento a brutalidade, a frieza, o capricho, a paixão, a injustiça.

A firmeza deve ser justa e paciente. Justa para mandar, segundo o dever, o bem, as forças da criança: deve ser uma firmeza elevada, sobrenatural, proporcionada. Os pais devem combater o próprio mal e não os efeitos que os incomodam; devem corrigir as inclinações da criança, porque são viciosas e não porque os fazem sofrer.

A firmeza deve ser paciente, isto é moderada, senhora de si; é preciso saber esperar, e não querer fazer tudo de uma só vez.

Firmeza justa e paciente, não há nada que seja mais recomendando aos pais pelas Escrituras Sagrada: «Aquele que não emprega a vara, diz ela, trata a criança como se a odiasse.»2.

À firmeza é preciso juntardes a bondade, para que as crianças vos amem. Sem ela, a firmeza seria odiosa e repelida, ou sofrida como escravidão.

«Qual é o vosso segredo para terdes tanta influência sobre as crianças?» perguntavam a um célebre educador, ao que ele respondia: «Começo por me fazer amar.» É preciso fazer-se amar pelas crianças, levá-las pelo coração, e cuidar-lhes sempre do coração.

Não é por uma bondade de concessão ou de fraqueza, que tem sido definida: A arte de desenvolver, numa criança, todos os defeitos que recebeu da natureza, e juntar-lhe todos os que a natureza se esqueceu de dar-lhe. Isto seria a destruição da firmeza, a ruína da educação.

Não é também, da parte do pai, uma bondade demasiadamente familiar uma bondade de camarada. Antigamente, havia talvez distância demais e como cerimônia e frieza entre o pai e o filho. Hoje é excessivamente o contrário cai-se na camaradagem, o que é um mal: traz a idéia da igualdade e enfraquece o poder paternal. Os maiores mestres da antiguidade, como Platão e Cícero, e os dos tempos modernos, no que diz respeito à educação, pronunciaram-se claramente sobre este ponto. A camaradagem prejudica o respeito e a autoridade.

É preciso uma bondade digna e forte, firme e sem fraqueza, e que não veja em tudo senão o bem da criança; uma bondade que seja o reflexo e como que a imagem da de Deus, a única que merece ser chamada a bondade paternal.

Enfim, porque sois dois, porque há a mãe ao lado do pai, a mãe que tem a sua grande parte na educação e autoridade também sobre a criança, é essencial que haja entre os dois umaconcordância mútua. Isto é muito raro. Os pais, muitas vezes, censuram-se, contradizem-se, brigam diante dos filhos.

Mas a criança não escapa à tentação de julgar os que fazem dela testemunha de suas desavenças; a sua consciência sente-se ferida, a autoridade é atacada e fica diminuída a seus olhos.

Fazei as vossas observações mútuas em particular, nunca em presença das crianças. Não mineis a vossa própria autoridade. Não mostreis diante delas senão uma união constante e um acordo perfeito: é a condição para manterdes intacta a autoridade, inviolável e sagrada. Com a concordância mútua, a bondade, a firmeza, a perspicácia, far-se-á a obra de correção, todavia com a condição de estar aí a religião para inspirar tudo, animar tudo, vivificar tudo.

Sem a religião não há educação possível. Os menos religiosos reconhecem-no, quando são sinceros, quero dizer, quando não fazem obra de sectários, mas obra de pais, quando se trata de seus próprios filhos.

Diderot ensinava ele mesmo o catecismo a sua filha; e respondeu a um amigo que se admirava disto: «Ainda não se encontrou melhor meio de educação.»

Littré consentiu que sua mulher educasse cristamente sua filha, sob a condição de encarregar-se da educação dela, segundo os seus métodos, quando esta tivesse dezesseis anos. E, quando chegou aos dezesseis anos, o coração do pai, ainda ligado ao positivismo, foi mais forte e mais perspicaz do que as suas teorias, e Littré não ousou tocar no trabalho de sua mulher, que havia feito de sua filha uma menina modelo.

Quantos pais, hoje, são ímpios por interesse, por espírito de partido, por ambição, e põem em segredo, ou poriam, se tivessem coragem para isso, suas filhas em casas de religiosas e seus filhos em casa de religiosos? É porque o coração de pai, meus senhores, quando não é desnaturado, é um santuário sagrado, onde se encontram, não obstante todos os desvarios, como em asilo inviolável, a verdade, a sinceridade, a inteligência de tudo o que é grande e santo, justo e bom, quando se trata dos interesses de seus filhos!

É, desde a idade mais tenra, que se deve imprimir fortemente o sentimento religioso na alma da criança. As primeiras noções, os primeiros sentimentos que ela recebe são os mais tenazes, os mais indestrutíveis.

Na sua alma nova, imprimem-se com tal força estes sentimentos, que nada, nada os poderá apagar.

As paixões, os erros poderão perturbar a superfície; a religião, se tiver sido ministrada como um culto, que é, desde a infância, firme e invulnerável, ficará como uma rocha de granito.

Desde o primeiro despertar da razão, falai às crianças a linguagem da razão e da fé e compenetrai-as das grandes idéias que fazem o homem e o cristão.

Em vez de lhes meterdes medos ridículos, ou ameaças, dizei-lhes que são vigiadas por Deus, que Jesus Cristo morreu por elas. Falai-lhes do julgamento de Deus, do Céu, do Inferno, do Purgatório, da Paixão de Jesus Cristo.

Inculcai-lhes profundamente o amor e culto do dever, da pátria, da Igreja, da virtude, da justiça, da caridade, da Virgem Santíssima, de Jesus Cristo, de Deus.

Que as suas orações sejam sempre feitas seriamente, e nunca por brinquedo, nem diante de estranho, só para mostrarem o que sabem fazer, é o que cumpre indicar-lhes.

Tornai-as piedosas, contando-lhes a vida de Jesus Cristo, cuja infância deve servir-lhes de modelo.

Conduzi-as cedo ao catecismo, porque aí, por instruções ao seu alcance, encontrarão exortações cristãs. Os pais não têm melhor auxiliar do que o padre na obra da educação moral. O padre não pode recusar-se, mas elas também não o podem recusar.

A primeira confissão deve ser, para as crianças, um negócio grave, um ato que nunca deverão esquecer.

Que a sua primeira Comunhão receba toda a preparação e seja rodeada de todas as medidas necessárias para que se torne o ponto central e como que o eixo de toda a sua vida, é indispensável.

Urge que entre os doze e os vinte ou vinte e cinco anos, enquanto dependerem de vós, o estudo da religião tenha o primeiro lugar em seu pensamento, como nas vossas três ocupações. Se uma educação religiosa, não confirma sempre, infelizmente, o triunfo da moral, uma educação sem religião assegura a sua derrota irremediável.

Dai-lhes uma religião sólida, esclarecida, bem arraigada, escolhendo-lhes com o maior cuidado os cursos, os pregadores, os livros de religião.

Fazei consciências indomáveis que não capitulem, caracteres de aço que não obedeçam senão a Deus.

Fazei com que sejam homens de convicção e de fé. São as idéias, as convicções, que governam o mundo: é a fé que o levanta e transforma. Mas é necessário uma fé que faça parte de nós mesmos, que esteja no sangue, e como segunda natureza: é a obra da educação! 

Notas:

1- São Lucas II, 51. "Era-lhes submisso."
2- Provérbios, XIII, 24.


Fonte: A Grande Guerra

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