sábado, 21 de dezembro de 2013

Meditações para o Natal (XIII)



Eu tenho de ser batizado num batismo, e quão grande  é a minha ansiedade até que ele se conclua (Lc 12,50)


Considera que Jesus sofreu desde o primeiro momento de sua existência, e que tudo sofreu por amor de nós; além da glória divina não tinha Ele outro interesse, em todo o curso de sua vida, do que a nossa salvação. Filho de Deus, não precisava sofrer para merecer o paraíso; penas, privações, opróbrios, Ele tudo sofreu para nos merecer a salvação eterna. Podia mesmo salvar-nos sem sofrer, mas preferiu abraçar uma vida cheia de dores, pobre, desprezada, privada de todo conforto, e uma morte mais amarga e desolada do que a de qualquer mártir ou penitente; por quê? Unicamente a fim de nos testemunhar a grandeza de seu amor por nós, e de ganhar os nossos afetos.

Jesus viveu trinta e três anos suspirando sempre pela hora em que devia oferecer sua vida em sacrifício para nos obter a graça de Deus e a glória eterna, e para ternos sempre consigo no paraíso. Esse ardente desejo Ele o exprimia com as palavras: Eu tenho de ser batizado num batismo, e quão grande é aminha ansiedade até que ele se conclua! Aspirava ao batismo de seu próprio sangue para lavar não os seus pecados, porque era inocente e santo, mas os pecados dos homens que lhe eram tão caros: Ele nos amou, diz S. João, e nos purificou de nossas iniquidades em seu sangue. Ó excesso do amor dum Deus, excesso de amor que todos os homens e todos os anjos nunca chegarão a compreender e a louvar dignamente!

Mas S. Boaventura chorava ao ver a grande ingratidão dos homens para com tão grande amor: “Senhor, exclama, como não se rompe o coração do homem diante do vosso amor?” Coisa maravilhosa, com efeito! um Deus suporta tantas penas, nasce chorando num estábulo, vive pobre numa oficina, morre exangue numa cruz, numa palavra passa uma vida toda cheia de trabalhos e aflições por amor dos homens, e os homens não se consomem de amor por um Deus tão amante, que digo? têm coração para desprezar seu amor e sua graça! — Ah! como é possível desprezar seu amor e sua graça! — Ah! como é possível que um Deus se tenha reduzido a tanto sofrimentos pelos homens, e que haja homens que ofendem e não amam esse Deus? 


Afetos e Súplicas.

Meu amado Redentor, sou um desses ingratos que pagaram com ofensas e desprezos vosso amor imenso, as vossas dores e a vossa morte. Ó meu caro Jesus, como, ao verdes as ingratidões que eu iria cometer contra vós, me pudestes amar cm tanta ternura e resolver-nos a suportar por mim tantas humilhações e sofrimentos? Ah! o mal está feito; mas não quero desesperar. Dai-me agora, Senhor, a contrição que me merecestes com vossas lágrimas; desejo que meu arrependimento iguale a minha iniquidade. Coração amoroso do meu Salvador, tão aflito e desolado um tempo pela minha salvação, e que hoje ainda ardeis em amor por mim, ah! mudai-me o coração: dai-147 me um coração que compense os desgostos que vos causei, um amor que iguale a minha ingratidão. Mas sinto já um grande desejo de vos amar; agradeço-vos, meu Jesus, vejo que tivestes a bondade de tocar o meu coração. Detesto sobre tudo os ultrajes que vos fiz, eu os odeio e abomino. Agora prefiro a vossa amizade a todas as riquezas e a todas as honras. Desejo comprazer-vos quanto possa. Amo-vos, amabilidade infinita, mas vejo que meu amor é muito fraco; aumentai-lhe a chama, dai-lhe mais amor. Devo corresponder ao vosso amor com um amor maior do que a ofensa que vos fiz, tanto mais porque em vez de castigar-me me tendes cumulado de favores especiais. Ó Bem supremo, não permitais eu continue a viver na ingratidão após tantas graças recebidas. Dir-vos-ei com S. Francisco: Morra eu por amor do vosso amor, vós que vos dignastes morrer por amor do meu amor!

Maria, minha esperança, ajudai-me; pedi a Jesus por mim.

(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)

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