sábado, 7 de dezembro de 2013

Meditações para o Natal (III).



Deus amou de tal o modo o mundo,
que lhe deu seu Filho unigênito (Jo 3,16).


Considera como o Padre eterno, dando-nos o Filho por Redentor, por vítima e preço do nosso resgate, não podia dar-nos motivos mais fortes de esperança e amor, para inspirar-nos confiança e obrigar-nos a amá-lo. Dando-nos o seu Filho, diz S. Agostinho, não sabe e não tem mais que dar-nos. Quer que nos aproveitemos desse dom de valor infinito, para obtermos a salvação eterna de todas as graças de que precisamos; pois achamos em Jesus Cristo tudo o que podemos desejar: achamos a luz, a força, a paz, a confiança, o amor e a glória eterna, sendo Jesus Cristo um dom que encerra todos os dons que possamos pedir e desejar.

De fato diz-nos o apóstolo: Como não nos dará também com ele todas as coisas? Tendo-nos Deus dado seu Filho dileto, seu unigênito Filho, a fonte e o tesouro de todos os bens, podemos ainda temer uma recusa de sua parte, seja qual for a graça que lhe pedirmos? Pela vontade de Deus, ele foi feito sabedoria para nós, e justiça, e santificação, e redenção. Deus no-lo deu, a nós ignorantes e cegos, para ser nossa sabedoria e nossa luz, e nos dirigir na via da salvação; a nós, dignos do inferno, para ser nossa justiça, e nos permitir aspirar ao paraíso; a nós, pecadores, para ser nossa santificação, e nos conduzir à santidade; a nós, enfim, escravos do demônio, para ser nossa redenção, e nos restituir a liberdade dos filhos de Deus. Numa palavra, em Jesus Cristo fomos enriquecidos de todos os bens e de todas as graças; basta que as peçamos por seus méritos. Em todas as coisas fostes enriquecidos nele... de maneira que nada falta em graça alguma a vós.

E esse dom que Deus nos fez de seu Filho, é um dom feito a cada um de nós, pois que ele o deu todo inteiro a cada um, como se tivesse dado a ele só; de sorte que cada um de nós pode dizer: Jesus Cristo é todo meu; o seu corpo e o seu sangue são meus; a sua vida, as suas dores, a sua morte, todos os seus méritos são meus. Eis por que S. Paulo dizia: Ele me amou e entregou-se por mim; e cada um de nós pode dizer o mesmo: O meu Redentor me amou e levou esse seu amor até se dar todo a mim.


Afetos e Súplicas.

Ó Deus eterno, quem nos poderia jamais ter feito esse dom de valor infinito, senão vós que sois um Deus de amor infinito? E que mais podereis fazer, ó meu Criador, para inspirar-nos confiança em vossa misericórdia, e obrigar-nos a amar-vos? Senhor, tenho-vos pago com ingratidão; mas dissestes, pelo Apóstolo, “que tudo contribui em benefício dos que vos amam”. Sejam pois quais forem o número e a enormidade de meus pecados, não quero que destruam a minha confiança em vossa bondade, mas quero que me sirvam para mais me humilhar quando receber alguma afronta ; ah! bem merece outras afrontas e outros desprezos quem teve o atrevimento de ofender-vos, Majestade infinita! Quero que me sirvam para suportar com mais paciência as cruzes que me enviardes, para vos servir e honrar com mais zelo, a fim de reparar as injúrias que vos tenho feito.

Sim, meu Deus, quero lembrar-me sempre dos desgostos que vos dei, a fim de louvar tanto mais a vossa misericórdia, e de me abrasar sempre mais de amor por vós, que me procurastes quando vos fugia, e me tendes feito tanto bem depois de haver recebido de mim tantos ultrajes. Senhor, espero que já me tenhais perdoado; arrependo-me e quero arrepender-me sempre de minhas ofensas. Quero ser-vos grato, compensando com meu amor a ingratidão que tenho tido para convosco; mas vós haveis de ajudar-me; a vós peço a graça de executar essa resolução. Fazei-vos amar, ó meu Deus, para a vossa glória, fazei-vos amar muito por um pecador que muito vos ofendeu. Meu Deus, meu Deus, como poderia eu cessar ainda de amar-vos, e renunciar novamente ao vosso amor?

Ó Maria, minha Rainha, socorrei-me; conheceis minha fraqueza: fazei que a vós me recomende sempre que o demônio pretender separar-me de Deus. Minha mãe, minha esperança, socorrei-me.

Nenhum comentário:

Postar um comentário