domingo, 27 de outubro de 2013

O Pai - Sua importância e seus deveres - Parte Final




Sem a Religião não há educação possível. Os menos religiosos reconhecem-no, quando são sinceros, quero dizer, quando não fazem obra de sectários, mas obra de pais, quando se trata de seus próprios filhos.

Diderot ensinava ele mesmo o catecismo a sua filha; e respondeu a um amigo que se admirava disto: "Ainda não se encontrou melhor meio de educação."

Littré consentiu que sua mulher educasse cristãmente sua filha, sob a condição de encarregar-se da educação dela, segundo os seus métodos, quando esta tivesse dezesseis anos. E, quando chegou aos dezesseis anos, o coração do pai, ainda ligado ao positivismo, foi mais forte e mais perspicaz do que as suas teorias, e Littré não ousou tocar no trabalho de sua mulher, que havia feito de sua filha uma menina modelo.

Quantos pais, hoje, são ímpios por interesse, por espírito de partido, por ambição, e põem em segredo, ou poriam, se tivessem coragem para isso, suas filhas em casas de religiosas e seus filhos em casa de religiosos? É porque o coração de pai, meus senhores, quando não é desnaturado, é um santuário sagrado, onde se encontram, não obstante todos os desvarios, como em asilo inviolável, a verdade, a sinceridade, a inteligência de tudo o que é grande e santo, justo e bom, quando se trata dos interesses de seus filhos!

É, desde a idade mais tenra, que se deve imprimir fortemente o sentimento religioso na alma da criança. As primeiras noções, os primeiros sentimentos que ela recebe são os mais tenazes, os mais indestrutíveis.

Na sua alma nova, imprimem-se com tal força estes sentimentos, que nada, nada os poderá apagar.

As paixões, os erros poderão perturbar a superfície; a religião, se tiver sido ministrada como um culto, que é, desde a infância, firme e invulnerável, ficará como uma rocha de granito.

Desde o primeiro despertar da razão, falai às crianças a linguagem da razão e da Fé e compenetrai-as das grandes idéias que fazem o homem e o cristão. Em vez de lhes meterdes medos ridículos, ou ameaças, dizei-lhes que são vigiadas por Deus, que Jesus Cristo morreu por elas. Falai-lhes do julgamento de Deus, do Céu, do Inferno, do Purgatório, da Paixão de Jesus Cristo.

Inculcai-lhes profundamente o amor e culto do dever, da pátria, da Igreja, da virtude, da justiça, da caridade, da Virgem Santíssima, de Jesus Cristo, de Deus.

Que as suas orações sejam sempre feitas seriamente, e nunca por brinquedo, nem diante de estranho, só para mostrarem o que sabem fazer, é o que cumpre indicar-lhes.

Tornai-as piedosas, contando-lhes a vida de Jesus Cristo, cuja infância deve servir-lhes de modelo.


Conduzi-as cedo ao catecismo, porque aí, por instruções ao seu alcance, encontrarão exortações cristãs. Os pais não têm melhor auxiliar do que o padre na obra da educação moral. O padre não pode recusar-se, mas elas também não o podem recusar.

A primeira confissão deve ser, para as crianças, um negócio grave, um ato que nunca deverão esquecer.

Que a sua primeira Comunhão receba toda a preparação e seja rodeada de todas as medidas necessárias para que se torne o ponto central e como que o eixo de toda a sua vida, é indispensável.

Urge que entre os doze e os vinte ou vinte e cinco anos, enquanto dependerem de vós, o estudo da religião tenha o primeiro lugar em seu pensamento, como nas vossas três ocupações. Se uma educação religiosa, não confirma sempre, infelizmente, o triunfo da moral, uma educação sem religião assegura a sua derrota irremediável.

Dai-lhes uma religião sólida, esclarecida, bem arraigada, escolhendo-lhes com o maior cuidado os cursos, os pregadores, os livros de religião.

Fazei consciências indomáveis que não capitulem, caracteres de aço que não obedeçam senão a Deus.

Fazei com que sejam homens de convicção e de Fé. São as idéias, as convicções, que governam o mundo: é a Fé que o levanta e transforma. Mas é necessário uma Fé que faça parte de nós mesmos, que esteja no sangue, e como segunda natureza: é a obra da educação!

A religião não penetraria na alma das crianças, a correção não corrigiria nada, se ambas não fossem apoiadas pelos vossos exemplos. Vós bem o reconheceis, meus senhores; se não praticais o que exigis, não podeis exigir com força e convicção, aquilo que não está em vosso coração. A vossa hipocrisia paralisará, queimará os vossos lábios: achar-vos-eis sem autoridade, sem força. O orador, diziam os antigos, é o homem de bem, que fala bem; é a definição do pai: ele só falará bem, se for homem de bem; só mandará bem no que souber praticar.

Como escapar ao olhar, ao ouvido da criança, à sua finura, ao seu espírito de observação? Se a vossa vida depuser contra as vossas lições, destruí-las-á. A criança lembrar-se-á dos exemplos e esquecerá as lições. "Toma cuidado, diz o Sábio, que a tua vida não seja a causadora da morte de teu filho."

Se, pelo contrário, o exemplo confirmar a lição, a criança ficará vencida.
Dai o exemplo a vossos filhos, meus senhores. Que vos vejam rezar, ao menos algumas vezes, é do maior alcance.

Quando a criança vê seu pai de joelhos, compreende melhor a oração parece-lhe que há alguma coisa da majestade do próprio Deus que desce sobre a fronte de seu pai. Respeita mais; e quer mais ao mesmo tempo, a seu pai da terra e a seu pai do Céu.

Fazei com que os vossos filhos vos vejam na Santa Missa em atitude silenciosa, de respeito e de oração e vos vejam comungar, quando mais não seja, pela Páscoa; ou pelo menos, que saibam que vós cumpris este sagrado preceito. A criança que não vê seu pai comungar, que sabe que seu pai não comunga, sofrerá mais cedo ou mais tarde, em sua consciência, assaltos terríveis, e tanto maiores quanto mais respeitar seu pai; a sua Fé ficará abalada.

Deixai que vossos filhos sejam testemunhas diárias da vossa paciência, da vossa humildade, da vossa bondade, da vossa mortificação, da vossa caridade, das vossas boas obras, do bem que fazeis, da paz e alegria que espalhais ao redor de vós por vossos exemplos e vossas virtudes!

Felizes dos que encontram em seus pais, o modelo do que devem seguir, e aos quais não se pode dar melhor conselho do que dizer-lhes: "Meus filhos, olhai para os vossos pais e fazei como eles!"

Estes exemplos são fáceis, meus senhores, se compreenderdes a sua importância; se penetrardes no santuário de vosso coração paterno, para nisto refletirdes; se tomardes o costume, antes de agirdes, de pedir conselho ao berço ou ao futuro de vossos filhos.

Mas não sois os únicos a ter influência sobre vossos filhos. Outras influências há que poderiam impedir ou destruir a vossa obra. Deveis preservá-los pela vigilância.

Preservai-os contra os perigos dos colégios e escolas, escolhendo com escrúpulo os estabelecimentos, os mestres a quem ides confiá-los.

A vossa responsabilidade a este respeito é grande. Não podeis ir ao acaso, nem contentar-vos com informações vagas e indeterminadas. Deveis ver vós mesmos e assegurar-vos de que tudo é correto. Deveis seguir a criança no ensino que recebe, sobretudo nas classes altas, e nunca abdicar do vosso direito de vigilância e de censura.

Preservai vossos filhos das conversações dos estranhos, dos amigos, dos criados. As crianças ouvem tudo, porque escutam tudo. Uma palavra, uma observação poderá ser o veneno lançado em sua alma. Vós deveis defendê-los e a vossa vigilância tendo sido surpreendida, se o mal foi praticado, devereis descobri-lo e remediá-lo.

Quando a criança parecer perturbada, não receeis mandá-la repetir o que tiver ouvido, para lhe mostrardes a sua falsidade e o perigo que daí pode advir.

Preservai os vossos filhos de leituras perigosas. A leitura tem lugar preponderante na formação do espírito, do coração e da alma. É do vosso dever proibir-lhes leituras perniciosas; e, se os estudos os obrigarem a fazê-las, devereis corrigir e destruir o seu efeito.

Sois vós que deveis indicar-lhes os livros que eles devem ler, - livros úteis e bons, fortificadores do espírito e retemperadores da alma, e em que possam aprender tudo o que é necessário para serem felizes e agradáveis a Deus.

Afastai os vossos filhos das más companhias que, muitas vezes, começam na infância com a imoralidade dos cuidados mercenários, e mais tarde com os amigos corrompidos. As más companhias ainda perdem mais a mocidade do que essas leituras prejudiciais.

A influência que um companheiro de maus costumes ou caráter baixo pode exercer sobre outro que é puro, ingênuo e bom, é tão extraordinária quanto perigosa. Começa o mau por se iniciar no espírito do bom, fazendo-lhe a apologia das suas falsas teorias ou dos seus péssimos costumes. Aquele que é bom, a princípio, resiste, depois, ou por timidez ou por fraqueza, deixa-se arrastar para o mal, para o crime... E ei-lo perdido para a sociedade, para a família e para Deus!

Afastai, pois, de vossos filhos, e sem piedade, os maus companheiros, e fazei por aproximá-los dos bons que serão para eles uma proteção, um amparo, uma segurança.

Preservai-os da ociosidade. Se vos achais em posição modesta, serão, obrigados a trabalhar, o que será uma felicidade. Se fordes ricos, ou se eles estiverem destinados a sê-lo, será um grande perigo. A ociosidade é funesta: desideria occiduntpigrum diz a Escritura. A ocupação útil, o trabalho, é a lei da vida para todos, tanto para os ricos como para os pobres. Os acidentes da vida não se fazem muitas vezes esperar, obrigando todo o mundo a trabalhar; e em quanto isto não acontece, para que vossos filhos estejam preparados, obrigai-os ao trabalho. Se não seguirem qualquer carreira, fazei com que empreguem bem o tempo e que pratiquem o bem.

Impeli-os a praticarem obras de caridade, e a cumprirem os deveres sociais. É nisto que eles encontrarão um magnífico papel a desempenhar, e a mais útil das influências; e, pelo que a experiência tem demonstrado, aí encontrarão o melhor preservativo contra o mal.

A última educação do moço, não é a menos importante. Trata-se de premuni-lo contra os perigos que vai encontrar na vida; contra os assaltos, até aí desconhecidos, das suas próprias paixões, contra o arrebatamento de tudo o que é novo e sedutor.
Mas ainda não é o momento de dizer: Tudo está concluído; não resta senão rezar. Sem dúvida; é preciso que redobrem as orações, mas é também preciso agir, não ficar em inação.

A autoridade deverá ser exercida com mais brandura, com mais ponderação e deve revestir-se de mais doçura, tato e circunspeção; mas deverá conservar-se vigilante e firme, não se conformar com o mal, dizendo: todo o mundo faz assim é preciso passar a mocidade; mas dizer, pelo contrário: "Não! O meu filho, não será como toda essa gente: é preciso que a sua mocidade, o seu sangue e a sua virtude se conservem intactos, para Deus, para a pátria e para a família que, por sua vez, há de constituir".
Falai-lhe dos seus futuros deveres, de sua família, de seus filhos e de sua esposa! Em tudo isto há uma fonte de sentimentos nobilíssimos, muito poderosos, que, maravilhosamente, hão de vir em socorro da religião, que há de sustentá-lo nas terríveis lutas que vai sofrer e assegurar-lhe a vitória. Fazei pairar, com antecipação, sobre a sua vida, a imagem da terna e inocente donzela e a dessas nobres criaturas que se lhe assemelharão, e das quais ele será pai.

Dar-lhe-eis deste modo, força maravilhosa, e assim o protegereis e o preservareis...
Se cair, não penseis que está tudo perdido; não desespereis, para que não fique com vontade de desesperar-se também. Sede bons, perdoai-lhe, levantai-o; nunca o façais perder a confiança em vós, em vosso coração.

Mas sede firmes e sem fraquezas. Há horas em que só o pai pode salvar o filho; só ele é que terá bastante autoridade e força para isso. Só a voz da natureza e do sangue será bastante poderosa para ser atendida.

Enfim, ajudai vossos filhos na questão grave do futuro, que não podem decidir a sós. Tratando-se de vocação religiosa, sondai-lha com prudência; mas não lhe ponhais obstáculos. Se a vocação não for de Deus, cairá por si perante estas prudentes medidas. Se for de Deus, que mal e que erro seria a vossa oposição a Deus! Que conseqüências para o futuro de vossos filhos!

Tratando-se de casamento, ponde de parte a ambição, a avareza, o egoísmo, e colocai-vos francamente sob o ponto de vista do verdadeiro bem de vossos filhos, e sob o ponto de vista cristão. Assegurai-vos da moralidade e sentimentos religiosos, da saúde, do caráter, do gênero de educação e da família. Tomai bem as informações, nunca serão demasiadas; sede desconfiados e não crédulos.

Em seguida, deixai a palavra ao interessado; não precipiteis nada; dai tempo para se verem e tornarem a ver: para se conhecerem, para saberem se são do agrado um do outro; nunca forceis um coração; as conseqüências poderiam ser desastrosas.

Tratando-se, finalmente, duma carreira a seguir, esclarecei e auxiliai-o com os vossos conselhos, mas guiai-vos sempre por vistas elevadas e por motivos nobres e cristãos; depois deixai o rapaz seguir livremente a sua inclinação e as suas aptidões; não lhe imponhais nunca a vossa vontade pessoal.

É na Escritura Sagrada, meus senhores, que deveríeis ler a importância do pai, e de seus deveres, as bênçãos permitidas aos que os cumprem, as infelicidades e os castigos dos que os desprezam. Deixo isto ao vosso cuidado. Vereis que não há palavras mais surpreendentes em qualquer outro assunto, do mesmo modo que não há palavra mais temível do que a que o Salvador dirige àqueles que fazem mal às crianças: "Aquele que houver escandalizado um destes pequenos, seria melhor que lhe atassem uma pedra ao pescoço e fosse lançado ao fundo do mar".

Como será terrível no dia do juízo a responsabilidade dos pais! Ah! Que bênçãos para aqueles que houverem compreendido os seus deveres, e os tiverem preenchido digna e corajosamente, para aqueles que tiverem sido os salvadores de seus filhos, e, por eles, de inúmeras gerações!

Mas que maldições cairão sobre aqueles que tiverem desprezado os mais santos e mais sagrados de todos os deveres; sobre aqueles que tiverem sido o escândalo e a perdição de seus filhos, e, por eles, de muitos outros!

Se, em nossos dias, há um espetáculo que entristeça profundamente os que se importam com a virtude e o bem, com o futuro da religião e do país, é o espetáculo da decadência da autoridade paterna. Têm-se atacado a autoridade e os direitos de Deus, a paternidade divina; têm-se exaltado os direitos do homem, o direito dos filhos, nos escritos, nos discursos, nas leis, de todos os modos. Um sopro forte de independência passou sobre as novas gerações. A autoridade paterna tem sido profundamente abalada nos costumes e nas leis, minada pela base, descoroada, desarmada! Os mais ilustres pensadores disseram-no, e soltaram o brado de alarme.

Os filhos já não querem obedecer: querem mandar antes do tempo; elevam-se acima dos pais, e acham-se superiores em tudo. Acabou-se a autoridade, acabou-se o respeito, acabou-se a submissão, acabou-se a família. E o individualismo excessivo; é a sociedade que se pulveriza.

Quem nos tornará a dar homens? Quem tornará a fazer cristãos, para que a sociedade se erga? São as famílias cristãs, os lares cristãos, os únicos capazes de fazerem reflorescer ainda a autoridade, o respeito, a obediência.
São os guardas do lar, os chefes de família; são os pais!

Disseram bem: "Os filhos são a colheita dos pais." Seja não temos homens, ou pelo menos se não temos bastantes; se a colheita é demasiadamente rara, se os celeiros da França estão vazios, é porque nos faltam pais, pais cristãos.

E eis porque, na tormenta que nos agita, todos os que, pensando no futuro não se querem desanimar, todos os que guardam no coração uma confiança invencível e esperanças imortais, se voltam para os pais, e lhes rogam que se conheçam a si mesmos, para compreenderem a grandeza de seus deveres e a sua influência soberana, e para lhes dizerem: "É de vós, ó chefes de família, ó representantes de Deus, ó dispensadores da vida, ó guardas da infância, é de vós, ó pais cristãos que dependem neste mundo, os bens e os males, a virtude e o vício, a grandeza e a decadência, a vida e a morte da família e da sociedade, dos indivíduos e do Estado, da Santa Igreja e da França!"


(Livro O marido, o pai e o apóstolo – Escravas de Maria)

Um comentário:

  1. Excelente post que nos mostra o quanto os pais são importantes na educação dos filhos.

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