sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Necessidade da intercessão de Maria para nossa salvação (Parte IV)



Necessidade da intercessão de Maria
para nossa salvação.

(Santo Afonso de Maria Ligório)



(Continuação)


4. Refutação e demonstração

Pelo mesmo motivo chama-lhe a Igreja ' 'porta do céu". Como todo indulto do rei passa pela porta de seu palácio, observa S. Bernardo, assim também graça ne­nhuma desce do céu à terra sem passar pelas mãos de Maria. Ajunta S. Boaventura que Maria é chamada porta do céu porque ninguém pode entrar no céu, senão pela porta que é Maria.
Nesse sentimento confirma-nos S. Jerônimo (isto é, um antigo autor com esse nome)1 no sermão da Assunção, que vem inserido nas suas obras. Nele lemos que em Jesus Cristo reside a plenitude da graça, como na cabeça, de onde se transfunde para nós, que somos seus membros, o vivificador espírito dos auxílios divinos necessários à nossa salvação. Em Maria reside a mesma plenitude como no pescoço, pelo qual passa esse espírito para comunicar-

 se ao resto do corpo. Com cores mais vivas dá S. Bernar-dino  o  mesmo  pensamento:   Por  meio  de  Maria transmitem-se aos fiéis, que são o corpo místico de Jesus Cristo, todas as graças da vida espiritual emanadas de Jesus Cristo, que lhes é cabeça. E com as seguintes pala­vras procura confirmar isto: Tendo-se Deus dignado habi­tar no ventre desta Virgem Santíssima, adquiriu ela uma certa jurisdição sobre todas as graças: porque, saindo Jesus Cristo do seu ventre sacrossanto, dele saíram jun­tamente como de um oceano celeste todos os rios das divinas dádivas. Escrevendo com maior clareza ainda, diy. o Santo: A partir do momento que esta Virgem Mãe con cebeu em seu ventre o Divino Verbo, adquiriu, por assim dizer, um direito especial sobre os dons que nos provêm do Espírito Santo, de tal modo que criatura alguma recebe graças de Deus, senão por mãos de Maria. À Encarnação do Verbo e a sua Mãe Santíssima refere-se a passagem de Jeremias (31, 22): "Uma mulher circundará a um ho­mem". Certo autor explica exatamente no mesmo sentido estas palavras: Nenhuma linha pode sair do centro de um círculo sem passar primeiro pela circunferência. Assim de Jesus, que é o centro, graça alguma chega até nós sem antes passar por Maria que o encerra, desde que o recebeu em seu puríssimo seio. Por esse motivo, segundo S. Ber-nardino, todos os dons, todas as virtudes e as graças também todas, são dispensadas pelas mãos de Maria, a quem, quando e como ela quer. Assevera igualmente Ri­cardo de S. Lourenço ser vontade de Deus que todo bem que faz às suas criaturas lhes venha pelas mãos de Maria. O venerável abade de Ceies exorta por isso todos à invo­cação dessa tesoureira da graça, como a denomina, por­que só por intermédio dela os homens hão de receber todo o bem que podem esperar. De onde claramente se vê que os citados santos e autores, afirmando nos virem todas as graças por meio de Maria, não o quiseram dizer só no sentido como o entende o sobredito autor. Para ele, tudo apenas significa que de Maria temos recebido Jesus, que é a fonte de todos os bens. Não; os santos também afirmam que Deus, depois de nos ter dado Jesus Cristo, quer que, pelas mãos de Maria e por sua intercessão, sejam dispen­sadas todas as graças que em vista dos méritos de Jesus Cristo se tem concedido, se concedam e se hão de conce­der aos homens até ao fim do mundo.

Daqui conclui o Padre Suárez que é hoje sentimento universal da Igreja que a intercessão de Maria não so­mente nos é útil, mas também necessária. Necessária, como dissemos, não de necessidade absoluta, porque tal nos é somente a mediação de Jesus Cristo. Mas necessária moralmente, porque entende a Igreja, como pensa S. Ber­nardo, que Deus tem determinado dispensar-nos suas gra­ças só pelas mãos de Maria. E primeiro que S. Bernardo, assim o afirmou S. Ildefonso, dizendo à Santíssima Vir­gem: Ó Maria, o Senhor determinou entregar nas vossas mãos todos os bens que aos homens quer dar, e por isso vos confiou riquezas e tesouros de sua graça. Por esta razão exigiu Deus o consentimento de Maria para se fazer homem. Em primeiro lugar para que ficássemos todos sumamente obrigados à Virgem, e depois para que enten­dêssemos que ao arbítrio dela está entregue a salvação de todos os homens.

Lê-se no profeta Isaías (11, 1) que da raiz de Jessé sairia uma haste, isto é, Maria, e dela, uma flor, isto é, o Verbo Encarnado. Sobre essa passagem tece Conrado de Saxônia este belo comentário: "Todo aquele que desejar obter a graça do Espírito Santo, busque a flor em sua haste, isto é, Jesus em Maria. Pois pela haste encontrare-os a flor e pela flor chegaremos a Deus. — Se queres Kossuir a flor, procura com orações inclinar a teu favor a vara da flor e alcançá-la-ás. De outro lado nota-te as pala­vras do seráfico S. Boaventura, comentando o trecho "Eles encontraram a criança com Maria, sua Mãe". Nin­guém, diz ele, achará jamais a Jesus senão com Maria e por meio de Maria. E conclui que em vão procura Jesus quem não procura achá-lo com sua Mãe. Dizia por isso S. Ilde­fonso: Quero ser servo do Filho; mas como ninguém pode servir ao Filho sem servir também a Mãe, esforço-me, por conseguinte, em servir a Maria.

l) Nota do tradutor.  

EXEMPLO
Durante uma viagem marítima, entretinha-se um jovem fi­dalgo de preferência com a leitura de certo livro obsceno. Em palestra com o jovem, pediu-lhe um religioso que fizesse um pequeno obséquio a Nossa Senhora. Com muito gosto o farei — respondeu o interpelado. — Pois então atire ao mar esse livro imoral, que está lendo; faça-o por amor à Virgem Maria, disse-lhe o religioso.
O fidalgo apresentou o livro para que o sacerdote o lançasse ao mar, em seu nome. Este, porém, observou: Não; quero que o senhor mesmo ofereça esse sacrifício a Nossa Senhora.
O moço prontamente atirou ao mar o livro que tanto havia antes apreciado.
Chegando a Gênova, sua terra natal, Maria o recompensou, fazendo com que tomasse a resolução de consagrar-se a Deus num convento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário