sexta-feira, 11 de maio de 2012

Hugo de S. Vitor - mais continuação




Do confiar à memória aquilo que aprendemos. 


A memória custodia, recolhendo-as, as coisas que o engenho investiga e encontra. 
Importa que as coisas que dividimos ao aprender as recolhamos confiando-as à memória: recolher é reduzir a   uma certa breve e suscinta suma as coisas das quais mais 
extensamente se escreveu ou se disputou, o que foi chamado pelos antigos de epílogo, isto é, uma breve recapitulação do que foi dito. 

A memória do homem se regozija na brevidade, e se se   divide em muitas coisas, torna-se menor em cada uma delas. 
Devemos, portanto, em todo estudo ou doutrina recolher algo certo e breve, que guardemos na arca da memória, de onde   posteriormente, sendo necessário, as possamos retirar.   Será também necessário revolvê-las  frequentemente   chamando-as, para que não envelheçam pela longa interrupção, do ventre da memória ao paladar. 


As três visões da alma racional. Diferença entre meditação e contemplação. 


Três são as visões da alma racional: o pensamento, a   meditação e a contemplação. 
O pensamento ocorre quando a mente é tocada transitoriamente pela noção das coisas, quando a própria   coisa se apresenta subitamente à alma pela sua imagem,   seja entrando pelo sentido, seja surgindo da memória. 
A meditação é um assíduo e sagaz reconduzir do   pensamento em que nos esforçamos por explicar algo obscuro ou procuramos penetrar no que é oculto. 
A contemplação é uma visão livre e perspicaz da alma de coisas amplamente esparsas. 
Entre a meditação e a contemplação o que parece ser  relevante é que a meditação é sempre das coisas ocultas à   nossa inteligência; a contemplação, porém é de coisas que segundo a sua natureza ou segundo a nossa capacidade são manifestas; e que a meditação sempre se ocupa em buscar alguma coisa única, enquanto que a contemplação se estende à compreensão de muitas ou também de todas as coisas. 
A meditação é, portanto, um certo vagar curioso da mente, um investigar sagaz do obscuro, um desatar do que é   intrincado. A contemplação é aquela vivacidade da 
inteligência que, possuindo todas as coisas, as abarca em uma visão plenamente manifesta, e isto de tal maneira que aquilo que a meditação busca, a contemplação possui. 


Dois gêneros de contemplação. 


Há, porém, dois gêneros de contemplação. Um deles, que é o primeiro e que pertence aos principiantes, consiste na consideração das criaturas. O outro, que é o último e que pertence aos perfeitos, consiste na contemplação do Criador.
 No livro dos Provérbios, Salomão principiou como que   meditando; no Eclesiastes elevou-se  ao primeiro grau da   contemplação; finalmente, no Cântico dos Cânticos transportou-se ao supremo. 
Para que, portanto, possamos distinguir estas três coisas   pelos seus próprios nomes, diremos que a primeira é   meditação; a segunda, especulação; a  terceira,
contemplação. 
Na meditação a perturbação das paixões carnais, surgindo   importunamente, obscurece a mente inflamada por uma   piedosa devoção; na especulação a novidade da insólita visão a levanta à admiração; na contemplação o gosto de uma extraordinária doçura a transforma toda em alegria e contentamento. 
Portanto, na meditação temos solicitude;na especulação,     admiração; na contemplação, doçura. 

( continua )


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